segunda-feira, 22 de agosto de 2011

“Mas, quem estará no mundo sem um ministério de Deus?”

 

Prefácio – Breve Notícia

“Senhor, que queres que eu faça?”
(Atos, 9:6)
      Prescinde não perder de vista que Paulo foi o vaso escolhido porque se mostrou capaz de suportar os duros golpes da vaidade e do egoísmo sem que seu ânimo apresentasse qualquer fissura. Não ignorava que a aspereza desses ataques vinha de dentro, do próprio íntimo, das entranhas do espírito. Era preciso resistir ao impulso menos feliz para que o conteúdo celestial não se turvasse, ou escapasse do coração.
      Se acaso tombava, traído pela própria natureza, o convertido dava provas de seu valor ao se levantar das “lutas humanas para seguir os passos do Mestre, num esforço incessante”. Paulo sabia que cada segundo que passasse chafurdado na lama da autocomiseração seria instante furtado do seu semelhante, tempo que deveria ter consagrado ao bem dos outros e do qual prestaria contas aos Céus.
      Na estrada de Damasco, Paulo perguntou ao mestre carpinteiro “Que queres que eu faça?” e a resposta veio através do bom combate. Desse ponto em diante, o tecelão levou a palavra do Cristo onde suas forças permitiram e, por meio desse empreendimento, povoou o incosciente de boa parte da humanidade ocidental com a mais doce das verdades.
      Emmanuel afirma no prefácio Breve notícia que sua intenção ao nos agraciar com a história de Paulo, não é outra senão apresentar “a figura do cooperador fiel, na sua legítima feição de homem transformado por Jesus Cristo e atento ao divino ministério.” Conjuga na mesma frase os verbos cooperar e transformar, sem se esquecer de adornar o texto com os adjetivos fiel e legítimo. Encerra esse enunciado falando de atenção e de um ministério que seria divino em seus atributos.
      É que o problema da cooperação com Jesus é bastante grave e implica fidelidade a uma proposta de vida exigente. A transformação de nossos habitos morais reclama atenção redobrada, Vigiai e Orai, para que se mostre legítima. Essa é nossa função na vida, nosso papel no grande espetáculo da criação.
      Paulo tinha seu ministério divino e fez coisas grandiosas, mas, sem se aperceber de que o fazia. Não calculava cada gesto com a intenção deliberada de entrar para a História. Apenas buscava ser Amigo de seus amigos e paciente com seus adversários. Fazia o que tinha de ser feito, bem feito. Sem suspeitar, tornava-se um convite vivo, sensibilizando os homens para a urgência de cada ministério divino.
      Saudável reflexão nos propõe Emmanuel ao disparar sua constrangedora pergunta: “Mas, quem estará no mundo sem um ministério de Deus?”. Para o autor “todos os homens menos rudes têm a sua convocação pes­soal ao serviço do Cristo.”, e acrescenta que as “formas como esse convite é feito podem variar, mas a essência ao apelo é sempre a mesma.”. Ele enfatiza, ainda, que o “convite ao ministério chega, às vezes, de maneira sutil, inesperada­mente”. Em suma, cada criatura recebeu das mãos do criador uma parcela considerável de responsabilidade sobre a vida.
      Mas, em que estrada do mundo se dará o meu encontro com o Cristo? Por qual voz escutarei Jesus me chamar ao trabalho? Em qual olhar eu verei a chama convidativa dos seus olhos?
      É preciso atenção! A obra que nos é confiada é, na maioria das vezes, a mais óbvia, a mais próxima e, quase sempre, a que nos negamos a atender. Talvez, por isso, Emmanuel defenda que “a maioria, porém, resiste ao chamado generoso do Senhor.”. O lar, o emprego, a rua... Em todo lugar e a qualquer momento poderei perguntar à “aparição do deserto”, “Senhor, que queres que eu faça?”.
      Aliás, há ministério maior que o do amor? Onde existe um coração o amor se faz necessário e é, por isso, que o mundo, todo ele, é nossa oficina de pequenas-grandes realizações.
      Emmanuel nos dá uma Breve Notícia antes de iniciar sua narrativa. E diz tanto com tão pouco! Saboreado o prefácio, é hora de nos lançarmos à leitura de Paulo e Estêvão, cientes de que o contato com a trajetória do Grande Convertido é a oportunida que temos de entender o quanto nos “compete trabalhar e sofrer, por amor a Jesus Cristo.”.

“...um realizador que trabalhou diariamente para a luz.”

Prefácio - Breve Notícia
 
      A aventura paulina é entusiasmante. Um sedutor convite ao trabalho, tônico que potencializa a nossa vontade de servir. Quem lê Paulo e Estêvão é acometido de uma febre abrasadora e compelido à eloquentes arroubos de benevolência.
      A vida de Paulo, interpretada e narrada por Emmanuel, nos mostra um ser humano determinado e tenaz, “um realizador que trabalhou diariamente para a luz.”. Por tudo o que foi dito, não é raro encontrarmos jovens leitores do estimado livro, decididos a promover a reforma planetária, custe o que custar.
      Me recordo, agora, de um caso bem conhecido no meio espírita e que trata da visita de um grupo de jovens cariocas a Uberaba. Empolgados com o verbo de Emmanuel em Paulo e Estêvão, procuraram Chico Xavier para relatar um ambicioso projeto. Queriam sair pelo mundo a divulgar o Evangelho, visitando quantos países fosse possível. Contam os amigos mais íntimos de Chico, que o médium não fez objeção alguma à iniciativa, ressaltando, inclusive, que se alguém nos procura dizendo que vai capinar o mundo, nos compete oferecer a enxada. Era de se esperar que o médium assim procedesse, afinal, é um crime tolir o espírito de serviço que palpita no coração dos nossos semelhantes.
      No entanto, o prefácio de Paulo e Estêvão - Breve notícia - sugere reflexões muito oportunas para o seareiro cristão que deseja plantar e colher o bem com segurança moral. É preciso considerar que, por vezes, o jovem tarefeiro se mostra embriagado pela inconsequência de uma empolgação quase infantil.
       Deve haver cautéla, prudência. Se a euforia não se ajusta ao bom senso, o trabalhador cristão passa a não enxergar o essencial, correndo o risco de capinar o mundo inteiro, mas, terminar a existência negligenciando a responsabilidade que tem para com o combate às ervas daninhas de seu próprio quintal.

O inolvidável tecelão.

Prefácio - Breve Notícia

    Todo livro, quando nascido do impulso generoso de um coração dedicado ao bem, é iniciativa bendita que enriquece a existência do seu leitor. O bom livro é o amigo das consciências despertas e tem, ao longo da história, servido aos propósitos de Jesus. Como ignorar, que o grande legado de Alan Kardec foi, justamente, sua obra literária, sopro revitalizador do cristianismo na Terra?
      Em minha infância, aprendi a amar a genuína literatura espírita, em especial aquela que chegou até nós através da mediunidade ímpar de Chico Xavier. Li vários livros e me encantei pela maioria, o que justifica a minha dificuldade em dar destaque para uma publicação específica, dentre tantas de valor.
      Contudo, Paulo e Estêvão foi em minha vida, como na vida de muitos,  uma experiência única, essencialmente afetiva. Esse livro é a mais delicada manifestação de caridade que poderíamos receber das mãos de um autor desencarnado e seu fiel medianeiro.
      Ganhava em cada página do livro um afago do Cristo. Enquanto lia-o, percebia que os primeiros cristãos se faziam mais presentes em minha vida porque, transportado até a Palestina Antiga, também me sentia mais integrado à vida que eles haviam vivido por amor à Jesus. Foi através de Paulo e Estêvão, ainda adolescente, que descobri Paulo, o inolvidável tecelão, assim como foi nas lutas desse apóstolo, suas experiências, sua caminhada, que eu acabei me descobrindo.
      É a esse livro que recorro, sempre que me sinto perdido e distante de minha natureza, de minha destinação espiritual. Uma bússola, um astrolábio, divino instrumento de navegação pelo qual me oriento, pelo qual procuro e encontro não só o que fui e o que sou, mas, também, o que Jesus sonha que eu seja um dia.