(Cap. VI – Ante o Sinédrio)
Estêvão ante o
Sinédrio, escudado pela paz incorruptível, submeteu-se aos golpes da vaidade
farisáica. Ali encontrou lobos vorazes, salivando ante a placidez do cordeiro. Era
o orgulho religioso, chaga aberta! Era o egoísmo vestido de púrpura! Sacerdotes e
doutores da Lei, vítimas da própria empáfia, néscios dignos de compaixão.
Com desassombro,
profetizou o paladino: “...para Deus, Israel significa a humanidade inteira.”. E
ali, sobre o solo santo do Sião, tresloucou-se o Clero israelita, antevisão de
nossas quedas lamentáveis. Sim, Israel é a humanidade interia, com seus
excessos e fascínios idólatras. Israel é, por isso, a comunidade cristã em sua
expressão humana.
Dirigia-se Estêvão aos religiosos de tudo o mundo. Ele falava ao coração dos crentes,
indagando com a sua energia serena: “Onde guardais a fé?”. Onde temos depositado
nossas convicções espirituais? Na seara santa dos sentimentos, ou no pantano
dos convencionalismos? Como temos vivido nossa religiosidade? Em espírito e
verdade, ou pela carne que há de perecer?
Minamos o
edifício de nossa convivência com contendas estéreis, preferindo o fermento da discórdia
às benécies da fraternidade cristã. Transformamos os irmãos de ideal em alvos
de um zelo impiedoso que, a pretexto de resguardar as tradições, humilha e
magoa. Acusamos, julgamos e condenamos aqueles que deveriamos amar. É para nós,
portanto, a observação arguta de Estêvão: “Incentivais a revolta e quereis a
paz?”
Estêvão afronta as
côrtes e tronos de todas as religiões do mundo em favor da única e inquebrabtável
religião, aquela que procede da boca de Deus. Falando aos israelitas, convida a
humanidade, toda ela, à uma comunhão perene com o Pai. Muito ama e, por isso,
desperta consciências ao questionar: “Não vos lembrais de que o Eterno não pode
aceitar o louvor dos lábios quando o coração da criatura permanece dele
distante?”
Aquele que vive realmente
em Deus não polemiza, não fere, não agride em nome da fé. Nossa justiça deve
exceder à dos farizeus que apedrejaram Estêvão. Devolvamos à poeira do mundo os
calhaus do nosso rigor. Dediquemo-nos à autocrítica. Trabalhemos pela redenção
de todos, policiando as nossas próprias disposições.